no meu mundo ideal

No meu mundo ideal, nao ha doencas incuraveis, criancas nao morrem, nao ha sofrimento daqueles que nao cabem no peito, ninguem se vai antes de completar o ciclo vital: nascer, brincar, crescer, estudar, trabalhar, unir-se, multiplicar-se, extasiar-se e de camarote assistir a evolucao de outros ciclos. No meu mundo ideal, viver em sua plenitude eh regra e chorar, sorrir, amar, se decepcionar, cair, levantar, correr, saltar, mergulhar de cabeca nos sonhos e ir em busca de realiza-los eh obrigatorio. No meu mundinho ideal ha tempo pra tudo e ver os filhos dos filhos dos filhos nascerem e crescerem eh coisa natural. No meu mundo perfeito e ideal, as pessoas nao morrem, se eternizam num plano paralelo. E nesse meu mundo, aquele que nao existe noutro lugar senao dentro de mim, a passagem eh feita assim, como quem apos um dia de trabalho duro, agradece pela vida e por tudo o que absorveu, compartilhou, aprendeu e ensinou, recosta-se a cama, fecha os olhos bem devagar e se entrega, vai, placidamente, pra uma outra dimensao onde o tempo nunca passa, onde eh sempre primavera, e de onde vigia, atraves das finas cortinas de veu, os que lhes sao mais caros, sem dor, sem tristeza, sem arrependimentos.
Uma vergonha, o mundo real eh mais duro, menos doce, e arranca a sangue frio um pedaco seu, as vezes num piscar de olhos, as vezes lenta e dolorosamente. Nessas horas, soh me resta acreditar e torcer pra que ao menos uma parte daquele meu mundo ideal, perfeito e indolor seja sim verdadeiro e que nela estejam eternamente guardados, felizes e iluminados aqueles que nos deixaram e aos quais um dia vamos nos reunir para, por tras das finas cortinas de veu, olharmos pelos que ainda estiverem por aqui.